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terça-feira, maio 08, 2007

Ela, ele e o silêncio

Sentaram no primeiro banco que encontraram na praça. A discussão tomara a caminhada toda e a tornara ainda mais exaustiva. Lado a lado, emudeceram entre as árvores que balançavam suavemente com a leve brisa noturna.

Ela mantinha os olhos voltados para o chão, entretidos em ver seus pés dançando sem fazer barulho, em movimento para cima e para baixo, da esquerda para a direita. Os sapatos vermelhos, com uma pequena fita entrelaçada à frente, pareciam divertidos olhados assim, dessa maneira.

Ele, com as mãos apoiadas no banco, como num sinal de quem ia levantar abruptamente, olhava para a rua, como quem espera por algo ou alguém. Seu olhar não se movia, estava fixo, parado, perdido em algum ponto da movimentada avenida ali adiante.

Já era madrugada, mas mesmo assim muitas pessoas caminhavam pelas calçadas. Logo ali ao lado, um grupo de cachorros corria de um lado a outro, como numa brincadeira de pega-pega.

Num gesto delicado, ele tirou uma das mãos do banco e buscou a dela. Os dois se olharam e ele quis falar e não conseguiu. Tentou novamente, mas de sua boca não saía nenhum som. Apenas os lábios moviam em movimentos nervosos como se percebessem sua solidão sem as palavras. Ela, buscando aliviar seu sofrimento, tentou balbuciar alguma frase carinhosa, mas percebeu que também não conseguia.

Já que as palavras os separavam, estavam condenados ao silêncio, que eternizaria sua união.

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