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segunda-feira, dezembro 29, 2008

Uns

Um botão de rosa para comover.
Um anel para celebrar.
Uma pétala para guardar.
Uma carta para contar.
Um suspiro para recordar.
Uma lágrima para despedir.
Um sorriso para perdoar.

Todo mundo é sempre um pouco muito sozinho.

sábado, dezembro 20, 2008

Aprendizados de um ano velho

Às vezes o melhor que a gente tem a fazer é deixar a porta aberta. Não é trancando a passagem que conseguiremos impedir que algumas coisas se vão: há sempre uma fresta de janela. Nem tudo o que a gente quer que seja para sempre pode ser e nem tudo o que a gente quer que vá embora vai no momento em que achamos mais conveniente. Paciência é uma virtude, desapego é um dom. Não somos donos de nada, a não ser das nossas próprias escolhas. O que já passou pode vir disfarçado numa nova já vivida situação. Os próximos passos dependerão do que você aprendeu antes.

Não devemos dizer adeus para nada. Somos feitos de uma massa de experiências e lembranças misturadas. Pelo menos em nossa mente, uma hora, tudo volta.

Até logo, 2008.

Meu presente de Natal para a Gaborin

Costumo jogar aqui palavras perdidas na minha cabeça insana. Mas o pedido de uma amiga chegou por essas vias internéticas e só porque é a Gaborin Gaboriela, alguém que eu admiro e quero bem pra caramba, também vou brincar de "meme" ("meme" significa criar um post com uma idéia e fazer com que outras pessoas escrevam sobre esse mesmo assunto dando seu ponto de vista.”, explicação de Alexandre Fugita, escritor do site TechBits).

Então, lá vai:

  1. Primeiro as regras:
  2. Colocar o link de quem te indicou pro meme;
  3. Escrever as regras antes do meme pra deixar a brincadeira mais clara;
  4. Contar os 6 fatos aleatórios sobre sua honorável pessoa;
  5. Indicar 6 blogueiros pra continuar o meme;
  6. Avisar para esses blogueiros que eles forma indicados;

Seis fatos aleatórios de uma só Suzina:

1) Sou uma Suzina que adora cachorros, coleciona patos, tem uma queda por llamas, mas que até hoje não teve nenhuma vontade de ter filhos.

2) A Suzina aqui em questão também gostaria que comer fosse livre arbítrio e não uma obrigação e parte da rotina do dia-a-dia. Por mim, as pessoas comeriam só quando quisessem e não passariam mal ou ficariam doentes por ficar um mês sem comida.

3) Dirigir e nadar são coisas que a Suzina nunca fez e que descobriu que tem bastante medo de fazer.

4) Mais de qualquer outro gesto, Suzina gosta de abraços. Uma pessoa pode ser muito legal para mim até eu descobrir que ela não gosta de abraços ou receber um abraço frouxo da própria. Tenho mania de estudar as pessoas pelo abraço que elas dão.

5) Suzina não gosta de nhemnhemnhem ou mimimi, como preferirem. Objetividade é minha preferência.

6) Para provar que poderia fazer coisas que nunca tinha feito, este ano Suzina pintou as unhas de vermelho pela primeira vez (das mãos e dos pés!), furou pela segunda vez a orelha e topou beber mais do que três caipirinhas numa só noite: e não ficou bêbada!

Pronto, tá aí meu "meme". Para quem eu indico? Difícil... Para todo mundo que quiser fazer... Pronto, isso! Você, que está lendo, tem aí o meu convite!

=)

domingo, dezembro 07, 2008

Sobre o esquecimento

Esquecer. Não lembrar mais. Do que é que a gente costuma não se recordar? Geralmente, de tudo aquilo que dizemos que lembraremos. Enquanto isso, todas as coisas que tentamos trancafiar no baú das memórias perdidas ficam vivas e sedentas de atenção. Muitas vezes porque simplesmente não queremos esquecer. Nossos lábios proferem canções de despedida, mas tudo não passa de um rito velado de mumificar uma lembrança dolorida.
Ser esquecido é tão doloroso que se as pessoas pudessem grudariam post-its com seu nome no coração umas das outras.

segunda-feira, novembro 24, 2008

Momento nostalgia

Quanto mais distante se fica, mais próximo estamos daquilo que deixamos para trás porque é a saudade que nos une. Passado é coisa de quem tem histórias e quem não quer contar as suas é porque ainda não se arrependeu de não sentir nostalgia. Presente é a oportunidade que se tem de fazer coisas que possam ser memoráveis depois, sem pensar em grandes coisas, mas sim naquelas que para nós pareçam grandes, mesmo que seja sentar no degrau da escada e ver a vizinhança passar ou botar a mala nas costas para morar em outro lugar. Qualquer coisa que chegue ao coração. Nada, mas nada mesmo, que não chegue perto de tocá-lo poderá ser lembrado depois com brilho nos olhos e saliva na boca. Saliva de vontade de viver tudo de novo, de voltar a ter 7, 8 anos e correr pelas ruas esfolando o joelho, caindo e levantando porque não se tem tempo para perder e porque chorar por besteira não vale a pena. Vontade de encontrar o primeiro amor, só porque as pernas ficavam bambas, de ir pra escola, de dormir na casa dos amigos, de empinar pipa e chutar bola na rua e de tantas outras coisas mais. Sem perceber, toda vez que recomeçamos ou damos início a alguma coisa é porque temos a vã ilusão de que poderemos ser tão despretensiosamente felizes como éramos antes, quando a palavra felicidade não fazia parte da lista de objetivos. Nem dos do dia, nem dos da vida, diga-se de passagem.

quinta-feira, novembro 13, 2008

sábado, novembro 01, 2008

A última folha em branco

Aquela angústia presa, afoita por liberdade, ganhou como única forma de expressão umas tantas folhas em branco e um lápis mal apontado. Por um instante, olhou praqueles pedaços de papel com o desprezo por um objeto que não tinha e não representava nada. Porém, aos poucos, foi percebendo que ali podia confiar seus maiores segredos, seus anseios, suas fraquezas, seus medos. Bastava dobrar e enfiar a prova no bolso e todo o resto estava seguro. Identificou-se, pela primeira vez, com os tais instrumentos "novos". Com eles e depois deles, tudo parecia ficar mais fácil. Aquela ferida dolorida, depois de exposta, ali, ficava tão pequenininha... As histórias que pareciam grandes não ocupavam mais do que cinco ou seis linhas. Mas chegou um dia em que se desesperou: restava apenas uma única e simples folha. Nada mais. Do lápis só restava um toco. E tinha ainda tantas histórias para contar... tanta coisa para dividir... A partir desse dia, passou a esperar pelas maiores coisas, para registar só aquilo que fosse realmente importante. E passou a viver mais, sempre na esperança de que o próximo momento fosse muito maior do que o que havia passado. E à medida em que cada um acabava, era só a expectativa que aumentava.

A última folha em branco continuava intacta, à espera.

sexta-feira, outubro 17, 2008

CV

Faço parte das poucas (e dos poucos) Suzinas nesse mundo. Além de mim, só minha mãe, minha irmã, um tio e mais três primos. E uma colina na Croácia. Nasci e cresci numa cidade do Paraná que parecia grande, mas tinha jeito de cidade bem pequena: Ponta Grossa. Trabalhei desde os 10 anos nos movimentos da igreja perto da minha casa, onde descobri minha paixão por gente, por conquistar públicos, por organizar eventos e planejar atividades. Desde os 11 já sabia que queria fazer Comunicação. Antes disso, queria mesmo era ser carteira. Troquei muitas correspondências com amigos, uma caixa cheia delas. Aos 18, mudei com minha família para Curitiba, para minha primeira jornada de trabalho durante o dia e estudo durante a noite. Estudei sempre em escola pública e tenho saudades dos corredores do colégio, das cantinas e das carteiras grandes de madeira. Prestei vestibular durante 4 anos. Tentei outros cursos antes de me decidir oficialmente pelas Relações Públicas: Jornalismo, Design Gráfico, Publicidade... Prestei Metodista de São Paulo por acaso, sem intenção nenhuma de largar casa-mãe-emprego. Passei e ganhei uma bolsa de estudos irrecusável. Mudei de novo, para morar com minha irmã. Um mês depois da minha chegada ela voltou pro Paraná. E aí fiquei sozinha. Trabalhei em agência de publicidade, em clínica de ortodontia, em ong, em petroquímica. Fiz freela quando fiquei desempregada, em assessoria de imprensa e em agência de eventos, sendo a mocinha que abria portas num Congresso. Neste último, ganhei em quatro dias o que ganharia em um mês. Trabalhei voluntariamente tentando fazer assessoria de imprensa para uma banda. Gosto de música. E de cinema. E de literatura. Tenho um blog. Acho meus textos piegas, mas publico. Adoro a cultura da América Latina. Amo a Argentina e o Rio Grande do Sul. Gosto de frio com céu azul. De comer fandangos com danoninho. Cheirar o pó de café me traz uma sensação boa. Adoro bolo de cenoura, arroz com feijão preto e lingüiça frita. O som que mais ouço é rock, o escritor que mais leio é Luis Fernando Verissimo e vou ao cinema para ver filmes alternativos. A pessoa de quem sinto mais saudade é meu pai. Coleciono patos. Quero fazer um curso de Economia. Tenho planos de conhecer Londres, Santiago do Chile, Dublin e Córdoba. Adoro cachorros e a minha é Bela. Não sei dirigir. Estou aprendendo a nadar. Tenho taquicardia e enxaqueca, mas preciso mesmo é cuidar da prolixidade. Quando começo a escrever, fica difícil parar.

terça-feira, outubro 14, 2008

Uma noite daquelas

Hoje tá uma noite daquelas... Daquelas em que você quer ficar pela rua, andando, bebendo, cantando, vendo gente e arrumando pretexto para ficar sempre mais. Daquelas noites que te fazem até acreditar que o mundo é perfeito e todas as pessoas são felizes. Quem me dera... A lua tá lá, redonda, majestosa, imponente, esbanjando sedução. E nada desse papo piegas, que tá com ar de enamorada e coisa e tal. Se ela tivesse olhos, eles, hoje, nesta noite, estariam cheios de malícia. Convidando pra esticar mais um pouquinho e dando mais uma razão para não voltar pra casa tão cedo.
Hoje tá uma noite daquelas de cidade de interior, que mesmo bem tarde da noite ainda tem gente sentada no banco da praça, de papo.
Tá uma noite daquelas de sentir saudade das boas companhias. Dos bons amigos. Daquelas em que você liga pra convidar alguém para dividir o banco da praça. Ou vai na casa da pessoa mesmo. Uma noite daquelas de querer levar a cama pra fora, deitar sob o céu estrelado e adormecer entorpecido com o ar da madrugada.
Hoje tá uma daquelas noites em que é bom ter alguém do lado, pra comentar da brisa, do vento nos cabelos, da sensação de arrepio, de olhar bem fundo nos olhos e deixar que deles saiam as palavras. Uma daquelas noites que depois viram livros.
Hoje tá uma daquelas noites que a gente quer que não termine.

domingo, outubro 12, 2008

Leva e traz

Porque tem aqueles dias em que você se sente um tolo e a saudade aperta e vai trazendo com ela todas as lembranças que, pelo menos agora, você está tentando esquecer. Voltam todas as imagens e todas as sensações. E você fica ali, parado, como se tivesse esquecido o caminho que tem que seguir para chegar no seu destino. Na verdade, você começa a questionar o próprio destino. Era para lá mesmo que você queria ir? Quanta coisa muda no meio do percurso. Algumas coisas que levamos a gente descobre que é tralha velha, aquelas às quais nos apegamos, mas que só nos fazem sentir mais cansaço. E tem aquelas outras tantas, que descobrimos que, por mais que se queira deixá-las para trás, estão muito bem amarradas na nossa história e que vão deixar marcas em nosso rastro. A mala da viagem não é muito grande, por isso nem sempre o que queremos levar cabe lá dentro. E, mesmo que caiba, é preciso deixar um espaço vazio, para preencher com o que de bom encontrarmos no caminho. Fazendo trocas, vamos mantendo o peso adequado para não desistir da jornada. A dor do abandono às vezes é maior do que o prazer de agregar o desconhecido. E vamos andando, nesse eterno jogo de perder e ganhar, deixar e levar, sorrir e chorar até que descobrimos que algumas coisas que tivemos que largar em algum pedaço da estrada, e que achamos que não seriam mais recuperadas, ficaram bem guardadas, dentro do nosso coração. Aquilo que realmente importa não pesa.

segunda-feira, setembro 29, 2008

Umbigos

Todo mundo tem um umbigo. Ou pelo menos deveria ter. Desconfie de quem não tem um. E por ser esse o primeiro elo que nos conecta a outra pessoa, a primeira via de comunicação, a fonte de alimentação por tanto tempo, os seres humanos vêm ao mundo imaginando que todo o resto que vão viver está relacionado ao seu próprio centro do corpo.

Alguns assimilam muito rápido a idéia de que "a vida não é assim, meu camarada, o seu umbigo concorre com o meu, portanto vamos encontrar meios mais igualitários de nos relacionarmos". Porém, uns outros tantos carregam por anos, e até por toda a vida, a impressão egocêntrica de que tudo se conecta a este pequenino e misterioso meio de tudo.

O mistério do umbigo é algo que deveria ser estudado em profundidade, literalmente ou não. Todo mundo já foi um curioso, metendo o dedo lá dentro pra ver se chega do outro lado ou se encontra algo perdido. Alguns ainda são. E talvez seja por esse questionamento de "o que há dentro de cada umbigo?" que muitos se perguntem se tudo o que acontece ao seu redor não seria resposta para essa pergunta.

Cada um tem um umbigo e todos eles devem conviver bem. Porque cada um é um mundo e no centro de cada mundo tem um umbigo e há muito (no) umbigo nesse mundo para se conhecer.

sábado, setembro 27, 2008

Mãos

Andando pela calçada, com as mãos espalmadas, pode-se oferecê-las a qualquer um que passe e precise delas.

O velho que atravessa a rua.
O mendingo que pede pão.
O transeunte perdido.
O grupo que festeja.
O trabalhador que corre.
O estudante que derruba os livros.
O pedestre que faz sinal para o ônibus.
O amigo que chora.
Aquele que precisa de um abraço.
Aquele que precisa de força.
Aquele que precisa de confiança.
Aquele que precisa de companhia.

Com as mãos livres é possível levar todo o mundo.

domingo, setembro 14, 2008

Desconhecer

Às vezes parece que a única solução é uma mala vazia e um bilhete com destino a qualquer lugar. Fugir sempre é a primeira opção. Mesmo que se deixe pra trás um pedaço do que se é e mais um monte de gente que te compõe. Não interessa quantos feridos vão ficar desde que o seu pobre e surrado coração sobreviva. Respirar novos ares é um método terapêutico recomendado para quem não sabe onde quer chegar, quem quer levar, nem que caminho seguir. O novo sempre traz a ilusão de que é possível começar do zero, sem perceber que o começo já está feito e quanto mais andamos mais distante ele fica de qualquer transformação. Nunca é tarde para mudar, dizem por aí, mas o que seria mais correto dizer é que sempre é tempo para se adaptar. Porque encontraremos em todos os lugares coisas e pessoas que servirão como inspiração para extrair de nós o que de melhor temos e também o que de pior escondemos, porque o que encobre tudo é o desconhecido. Todo estranho pode ser uma boa pessoa até que você o conheça. E você poderá amar tantas quantas pessoas disserem para você que são adoráveis, se você não se dispor a conhecê-las. O limite é sempre o contato inicial.

sábado, agosto 30, 2008

Dinâmica da paixão

O ridículo de estar apaixonado envolve a vergonha freqüente de acreditar em tudo o que não existe.
Uma bela cara pintada esconde as cicatrizes e os sinais de um rosto bandido.
Meia dúzia de palavras bonitas, bem amarradas, revelam o cinismo com que se pretende ganhar algo.
Enquanto um coração se ilude
O outro explode de euforia, impune
Diante do crime de fazer-se amante
Sem nenhuma intenção de amar.

terça-feira, agosto 12, 2008

Fitness Cerebral

Fui e voltei e não te vi
É possível, te perdi
Ou será que te esqueci
E nem mesmo te reconheci?
Mais um, no meio de tantos
Em outros vejo encantos
Ah, já se foram os prantos...
E as rimas, que sinas!
Ficaram perdidas pelas esquinas...
Pra memória fraca... hummm
Recomendo tomar vitaminas!

domingo, julho 27, 2008

Conjugação

Eu não falo
Tu não falas
Ele não sabe
Nós não contamos
Vós não sabeis
Eles não entendem

Eu não dou o braço a torcer
Tu não arriscas
Ele não sabe
Nós nos perdemos
Vós só assistis
Eles continuam não entendendo

sexta-feira, julho 11, 2008

Me perdi

Cansei. Nem tenho muito o que falar, o cansaço engoliu minhas palavras. Fico andando entre as pessoas, nas calçadas e nas ruas, e lembrando de tanta coisa, de tanta gente. Não dá pra reunir cada coisa em tentativas exclusivas de um texto filosófico. A filosofia está se esgotando. Na mesma medida em que a areia da ampulheta corre e deixa vazio o espaço que ocupava e que vai ficando pra trás. Tenho procurado coisas que não sei onde estão e nem sei o que são. Repudio a mão que me oferece ajuda com a mesma intensidade em que desejo que ela me dê força para levantar. Ou pouca, ou muita. Tem dias em que o riso chega fácil e resiste e não vai embora. Agora tem uns outros em que ele escapa pela borda dos lábios e corre furtivo pelos cantos e beiradas de qualquer lugar. Sem avisar. E tem muito mais coisas que se perdem. Objetos pela casa. Lembranças antigas. Mapas de como chegar. E, em toda mudança, a gente também deixa para trás um porto seguro. Um amigo, um médico, um dentista, ruas conhecidas, rostos familiares, um nome, um gesto, um abraço, um bem estar. Tudo isso pra, quem sabe, achar outra coisa pra pôr no lugar. Somos, definitivamente, seres muito estranhos.

sábado, julho 05, 2008

Onde está o novo

Risco com a ponta do lápis a folha em branco na espera de que alguma boa idéia apareça. Não sei o fantasma de quem as afastou de mim. Agora, um vazio surdo e escuro toma conta do espaço donde tantas cores já brilharam.

É noite, não tem luz. Tateio para reconhecer algo que me ponha em paz novamente, que firme meus pés com a segurança de poder caminhar.

E se me adianto e ainda acredito é porque sei que há algo adormecido esperando apenas o dia amanhecer para nascer. De novo, o novo.

domingo, junho 22, 2008

Planos para uma vida

Esperado, tão esperado. Agora, está aí, batendo à porta, faltando pouco mais que alguns dias.
As inquietações começaram a ganhar forma. Nos sonhos elas me procuram e na realidade também, aquelas escondidas junto à tinta da caneta com a qual escrevo meu roteiro.
Preciso imprimir meu mapas, meus guias, organizar meu roteiro. Apesar de gostar muito do espontâneo de última hora, não quero perder nada por estar despreparada.
Caderno para registrar tudo já tenho e a caneta já está predestinada. Se o mundo é um lugar de escritores, eu serei apenas mais uma em meio a massa, discorrendo sobre as emoções de conhecer lugares tão lindos, tão cheios de cultura.
Mas não vou me prender só ao roteiro. Sempre tem um caminho diferente. E eu estou aberta a ele.

sábado, junho 07, 2008

Pensamentos soltos

Caneta tampada, página em branco. A cabeça entupida de idéias, mas mãos lentas demais para reproduzir tanto pensamento. Um sopro inspira, a realidade freia o sentimento. Não se sabe mais o que dizer, nem como dizer. Afinal, tantas coisas já foram ditas e agora não representam mais nada. Quanto dizemos sem saber o peso que as palavras terão... Quão pouco fazemos, mesmo sabendo que a atitude vale mais que um discurso... Ninguém quer apenas saber, se sentir move muito mais, transforma muito mais, faz muito mais. Dizer que a gente só quer uma coisa da vida é a pior maneira de enganar-se. Queremos mais e sempre mais, independente de termos conseguido muita coisa. E mais que tudo, queremos coisas que não deixamos explícitas o suficiente. E culpamos os outros pelo nosso silêncio e pela nossa incapacidade de falar e de dividir. Aprendamos a ser videntes.

sábado, maio 31, 2008

Meus amores, minha vida

Página virada, toco a vida pra frente. O que já foi não volta porque é pra ficar no passado e não continuar sendo.
O que vem é um monte de surpresas, dias cheios de imprevisível. Deliciosa incerteza de ser que enche a gente de expectativa na espera de novos sorrisos.
Aproveito meus amigos, seus abraços verdadeiramente apertados, suas prosas cheias de verso, suas poesias cotidianas sem rima. Meus amores, minha vida.
Tenho a quem dedicar tempo e paixão. Se não é a mim, quando preciso, é àqueles que fazem parte da lista de eternamente inesquecíveis do meu coração.

sexta-feira, maio 23, 2008

Necessidades

O necessário faz-se inútil
Quando encontramos algo para pôr em seu lugar
Por que forçar? Por que insistir?
Se deve vir naturalmente
Será natural que se queira
Sem ser necessário obrigar

domingo, maio 18, 2008

Palavras

Ouço o som de uma palavra brincar comigo
Ela vem quietinha e pula dentro do meu ouvido
Se divide e se transforma
Às vezes, se torna riso
Em outras, se torna pranto
Se fecho os olhos, posso vê-la pelos cantos da minha mente
Inquieta, a me incitar
Me pergunta:
"O que é? O que queres que eu te diga?"
E sou eu que escolho no quê ela irá se transformar

domingo, maio 11, 2008

Um amor, um lugar

O tempo traz o cheiro da saudade. Sinto ainda o arrepio do primeiro encontro, fecho os olhos e me encontro novamente no melhor lugar do mundo. Rápido demais, intenso duas vezes mais. Foi com paixão, mas sobretudo com amor, que vivi cada instante, que observei cada detalhe, que sorvi cada momento. Foi com a ansiedade de quem quer guardar pra sempre dentro de si a mesma sensação. Foi com o apego infantil de quem quer nunca mais ir embora. Foi com a pressa de quem tem pouco tempo. Foi com a curiosidade de quem começa a ver. E foi com a tristeza covarde, de quem não tem coragem para arriscar um pouco mais, que me despedi, com lágrimas nos olhos, mas com o coração pulsando firme, certo de que tudo voltaria a ser como naqueles dias. Inesquecíveis dias. Eternamente relembrados dias.

sábado, abril 26, 2008

Tchau, tchau balão

O balão redondo e brilhante ia subindo
Ganhando o céu
Da calçada, o menino com os olhos húmidos
Apenas contemplava
O ponto colorido que cada vez mais distante ficava
Lamentando por ter deixado escapar o fio de seus dedos

quarta-feira, abril 23, 2008

Rascunhos meus

Nesta volúpia insana de tentar dizer o que sinto
Já gastei tantas palavras
Tanta tinta rabiscada em sabe-se lá quantas páginas de rascunho
Quantas horas parada olhando o nada e vendo tudo
Encontrando um milhão de respostas indescritíveis
Para perguntas que não sei de onde vieram e muito menos para onde vão me levar.

domingo, abril 20, 2008

O último apaga a luz

Sobrou o palco vazio e o eco da platéia que ainda pedia bis.
Da guitarra no chão apenas o tremular das cordas depois do último acorde.
O vazio tomou conta da alma e a multidão se sentiu só.
As mesmas imagens ficariam gravadas na memória de quem assistiu.
As mesmas palavras continuariam cada vez mais fazendo parte da história de quem acompanhou.
Os mesmos versos seriam repetidos muitas vezes, incansavelmente, de geração em geração.
E esses mesmos versos contariam sobre dias de amizade, música e boemia.
E os corações daqueles que estiveram ali continuariam batendo forte, apertados de saudade.
Sempre com a ilusão de que os dias felizes voltariam.

sábado, abril 19, 2008

Aridez

Assim como há dias de muita tempestade
E meses de chuvas onipresentes
Há um momento em que a seca chega
Aquece
Consome
E as águas fogem e são engolidas pelas terras áridas
E as palavras somem e se perdem em folhas em branco
Não há gota
Não há expressão
Só o desejo de que a chuva chegue

sábado, abril 12, 2008

Próximo

Há uma fila de acontecimentos pedindo para serem sentidos, mas o coração atende só um por vez. E quanto tempo cada um vai ocupar o palco principal não é possível saber.

Eles ficam lá, enfileirados, com as mãos erguidas, sempre fazendo algo para pedir atenção. Especialmente porque não é a ordem em que se encontram que vai dar prioridade, mas a intensidade com que querem ser vistos.

Alguém espia e grita para os de fora: "esse aqui não dura muito mais tempo, fiquem de prontidão".

E quando o outro sai pela porta ao lado, realizado ou chutado, o que todo mundo quer é saber para qual dentre eles os olhos se voltarão.

quarta-feira, abril 02, 2008

Top 5

Eu sempre tive dúvida se o que eu mais gostava em você era também o que eu mais odiava.
Era seu jeito calmo e tranqüilo, que transpira confiança, o mesmo que me enfurecia por ter que esperar tanto tempo por uma reação sua.
Era também esse seu jeito amável, afável, sociável que me fazia gostar tanto da tua companhia, mas que me fazia deitar todos os dias com mil dúvidas rondando minha mente.
Era sua boa conversa, que me fazia querer contar, dividir e falar qualquer bobagem, mas que, sutilmente, me fez falar mais de mim e do que sou do que pretendia.
Era seu bom humor constante, que me fazia rir quando tinha vontade de explodir, mas que sempre me fez questionar o quanto você se envolve com as coisas.
E tinha esta outra característica, tão sua que me metia medo, especialmente porque não conseguia descrevê-la ou interpretá-la, de fazer despertar em mim a menina boba que eu tinha jurado para mim mesma que não deixaria mais que saísse para brincar. Era o que eu mais odiava. Era quando eu menos me ouvia.
A menina voltou pro castigo.

domingo, março 30, 2008

segunda-feira, março 24, 2008

Vista interna

Minha sombra é apenas mais uma prova da nebulosidade que habita em mim.

Me descobri incomodada com a minha própria presença e desesperada por saber que os únicos momentos que tenho longe de mim são quando repouso meus olhos e meus ossos durante o sono.

Nunca estarei livre de mim e nem posso me abandonar. Esta é mais uma verdade que colidiu comigo e que tenho que enfrentar.

Por muito tempo acreditei que fugia das pessoas, mas agora compreendo que é de mim que sempre quis me afastar.

Não me considero merecedora do menor instante de felicidade e é por isso que os espanto.

A solidão mais triste a que me reservo é a que planejo viver comigo mesma.

quarta-feira, março 19, 2008

Murmúrios de um dia sombrio

Vou me despedindo da vida, lentamente. Não sou eu quem está desistindo dela, mas sim é ela que a cada dia um pouco se vai.

E olhar pra trás traz tanta coisa, que já nem sei mais o que sentir. Uma felicidade inconstante pelos tantos momentos inesquecíveis. Um acelerar do coração trepidante ao pensar em tanta gente que passou pela vida. Um derramar de águas torrencial por todas as desilusões. É uma amargura doentia, por saber que não dá pra voltar atrás e recomeçar.

E tem tanta coisa que se quer deixar. Todo mundo quer se eternizar, nem que seja na vida de apenas uma pessoa. E deve doer sentir que se passou a vida a esmo, sem deixar rastros, nem sinais, nem lembranças...

Se eu tivesse um único desejo para depois da minha despedida seria ter minhas memórias guardadas dentro de um coração zeloso. Alguém que pudesse cuidar delas e fazer com que nunca se apagassem.

Se eu estivesse partindo hoje, gostaria de deixar como herança, a meus amigos, a minha família, a meus amores, tudo o que sinto. Tudo que não pude sentir. E tudo o que quis sentir.

Se eu soubesse mesmo quando o fim chegaria, gastaria meus últimos minutos dando todo tempo que não tenho dado a toda gente que tem merecido.

Se eu soubesse, se tu soubesse, se qualquer um soubesse... a angústia não faria sentido. E não haveria dúvida, não haveria estímulo.

Melhor não saber... e tentar fazer por merecer quando ainda estou viva.

segunda-feira, março 17, 2008

Só palavras

Se conheceram por uma fresta na parede de madeira que os separava. Ele ouviu ela chorando baixinho e, num ímpeto de solidariedade, sussurrou do lado de cá: "ei, você quer conversar?" Ela, meio sem jeito por ter sido descoberta em momento tão íntimo, consentiu. Disse meia dúzia de palavras sinceras demais, do quanto estava chateada com a vida que levava. Se espantou porque nunca tinha falado tanto de si mesma para outra pessoa.

Ele, por sua vez, compreendeu. Partilhava com ela da mesma solidão e dos mesmos dias tristes e sombrios. Passaram a noite toda conversando e só se deram conta disso quando o sol apareceu nos furinhos das telhas.

E esse foi só o primeiro dia. Desde então, passaram a trocar confidências, falar sobre o tudo e o nada, sobre as pessoas que fizeram parte de suas vidas, sobre como tinham chegado ali, sobre o que sonhavam, sobre os passos que ouviam, sobre as esperanças que tinham. Dormiam pelo cansaço de tanto conversar, mas acordavam ansiosos pelo sinal que demonstraria que o outro também havia despertado. E assim passaram semanas e meses, esquecendo que estavam sozinhos.

Pela fresta, tudo o que conseguiram ver foram detalhes dos olhos, cantos dos lábios e mechas de cabelo caídas. Por mais que um tentasse se afastar para que o outro o visse, seus espaços eram tão escuros que tudo o que conseguiam enxergar eram sombras indefinidas.

De tão próximos que ficaram, ele um dia se declarou. Revelou seus desejos mais secretos e contou seus planos. Ela, sorriu chorando do outro lado, eufórica com tanto amor correspondido. Mas de repente seu sorriso se perdeu. E ela se lembrou que palavras conseguem ultrapassar paredes. Mas, sozinhas, nem sempre são capazes de entrar num coração.

quarta-feira, março 12, 2008

Braços e sorrisos abertos!

E amanhece um dia em que você acorda com aquela euforia vinda de não sei onde, com vontade de abraçar todo mundo pelo caminho, do porteiro ao colega de trabalho ranzinza. E nesse dia tudo o que você quer é sorrir e fazer as pessoas sorrirem, 'não deve ter missão mais bonita na vida', você pensa lá no fundo.

E ae você sai pra rua cantando, mas encontra um bando de caras sizudas, sérias, medindo o tamanho da sua ousadia, do seu pé à cabeça, como se toda alegria que se demonstra pudesse caber apenas neste pequeno volume de gente.

E você chega no trabalho e diz bom dia, mas o que recebe como resposta são os tec-tec-tec nervosos de dedos apressados no teclado. Nem começou direito mais um dia e estão todos por aí, enfiados em papeladas que nem dizem respeito às suas próprias vidas.

Alegria sufocada pode matar, sorrisos presos podem deixar a boca torta, assim como tomar café olhando no espelho, já nos avisava nossa boa avó. Então pra que perder a oportunidade de ser bonito, de deixar solta toda vontade de ser feliz e fazer os outros felizes?

Porque no final, é isso que conta mesmo. Quer seja no fim do expediente de trabalho ou nos últimos instantes da nossa vida, o que vamos querer lembrar é do quanto fomos felizes. E as boas recordações deixam os cantos dos lábios sempre voltados para cima, porque é para este lado que se cresce. Na vida, na sorte, na fé, no canto e na morte. Braços e sorrisos sempre abertos!

quinta-feira, março 06, 2008

História de um romance interrompido

Desligou o telefone e sentou na cama empaledecida e com as pernas bambas. Só lembrava que a voz do outro lado da linha dizia: "tentaram de tudo, mas ele não resistiu..."

Seus olhos afogaram-se em lágrimas e suas mãos já não suportavam nem o copo, de tão trêmulas. "Não resistiu..." as duas palavras ficavam latejando, enquanto a cabeça girava com mil lembranças.

E, de repente, o que era só dor virou também remorso. Por que é mesmo que tinha recusado o encontro da véspera? Ele disse que queria conversar, que estava com saudades. Mas ela achou que podia esperar até amanhã, queria dormir, estava cansada. Agora, pesava o último abraço que não tinha dado, as últimas risadas que não compartilharam, o último beijo que não deram.

A dor do nunca mais bateu forte em seu peito. E ela se lembrou das vezes em que ele partia em suas viagens pelo mundo, e ela lhe perguntava chorosa: "nunca mais vou te ver?" Então ele segurava forte em suas mãos, colava seu rosto no dela e respondia: "nunca mais é muito tempo para ficar longe de você."

Mais do que antes, agora, ela tinha certeza disso.

domingo, março 02, 2008

O melhor lugar do mundo

No mundo das pessoas invisíveis a multidão passa sem olhar para ninguém.

Cada um é só mais um no meio da imensa massa de gente que vem e que vai. Estão todos dispostos a deixar cada um viver a sua vida.

Paraíso de um, inferno de outros, neste lugar cada um pode ser o que é, o que quiser ser. Sentar na rua, caminhar na chuva, chorar em público... Tudo é possível.

Num mundo onde a privacidade não existe mais e onde não se encontram mais ombros que suportem muito tempo angústias alheias, o espaço cheio de anônimos é o melhor refúgio.

sábado, fevereiro 23, 2008

Sobre a saudade

Sentir saudade e sentir falta de alguém. Dois sentimentos tão próximos, que acabam se confundindo. Mas que, de fato, possuem intensidades tão distintas...

Sentir falta de alguém é como sentir falta de uma blusa no meio de um vento frio. A primeira que se encontra e aquece faz fugir da lembrança a imagem da outra com a qual se sonhou. Às vezes sentimos falta de um abraço ou de colo, do gesto em si, sem nome e sem rosto para resolver. E a primeira pessoa que oferece seu regaço sacia nossa necessidade e sossega nossa ansiedade. Mas isso não é saudade...

Saudade não tem cura enquanto não se mata com o que se idealiza, com quem se idealiza. Saudade tem nome, tem endereço, tem som, tem cheiro, tem imagem. Saudade não se mata com algo que seja parecido. Saudade não vai embora com remediações. Saudade dói. Saudade faz chorar, faz sonhar, faz planejar, faz fazer acontecer.

É mais bonito dizer que sente saudades. Às vezes até mais conveniente. Mas a saudade... ah, saudade de verdade a gente reconhece de longe. Mesmo quando nos faltam palavras para descrevê-la.

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Regras da vida

Resisto, implico, insisto. Por que é tão difícil se soltar e deixar que a vida rume o caminho que deve seguir?

Nos ensinaram desde sempre que temos que ter controle do nosso mundinho, que devemos segurar as rédeas de nossa existência e, assim, o sofrimento perpetua, passado de geração em geração.

Nossas experiências com a retidão nos coroam publicamente, mas deixam grandes marcas e cicatrizes dentro de nós.

Enquanto a nossa mente é livre e viaja por todos os cantos onde gostaríamos de estar, nossos sentimentos são jogados e presos em celas, em cantos escuros de nosso coração.

Triste herança, ousado hábito a se adotar.

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Disfunções hormonais

Quanto tempo desperdiçado em divagações alucinógenas.
Quantas horas perdidas pensando naquilo que não existe.
Quantas mágoas guardadas por situações que não aconteceram.
Quanta raiva sentida por razões sem justificativa.

Quanto prazer a TPM nos tira?
Quanto dinheiro gasto com feminismos?

Quantos botecos perdidos...

terça-feira, fevereiro 05, 2008

Dois toques

Hesito diante do telefone. Será que devo?

Queria ouvir sua voz, mas não quero que perceba que estou doída de saudade. E não quero porque sou tola, insegura. Percebo com isso que ainda não aprendi a dar a cara ao tapa para assumir o que sinto.

O telefone está aqui, ao alcance da minha mão. Giro-o com os dedos enquanto meu estômago se espreme de ansiedade. Eu não sei se já descobriram, mas definitivamente ele se conecta de alguma forma ao coração, porque à medida em que as batidas ficam mais intensas, a náusea aumenta.

Ridícula! E qual é o problema se ele achar alguma coisa? O que você sente é seu e não faz nem de você nem dele pior ou melhor, maior ou menor.

Ligo? Não ligo. Ligo! Afinal, no fundo, é o que quero. Falar, saber como está.

Liguei. Um toque. Será que desligo? Dois toques.

- Alô?

segunda-feira, fevereiro 04, 2008

Sem aviso

Bang!

O bandido atira e acerta. O mocinho cambaleia pra um lado e para outro, com a mão posta no coração como se pudesse com a ponta dos dedos prover a mágica de curar todo mal que faz doer.

Seus dedos são curtos, sua fé é pouca e a multidão que tudo acompanhava foi embora num estalido. Ficaram só ele, a dor e a pouca vida que aos poucos também se retirava.

sábado, fevereiro 02, 2008

Marcado pelo destino

Era sempre assim: quando as dores chegavam para dilacerar sua alma, sentia como se tivesse aberto os braços para uma chuva de pequenas agulhas que caíam, atiradas propositadamente contra ele. Podia ver-se fechando os olhos, sabendo cada passo da dor que iria sentir, como se estivesse predestinado a sofrer sempre esta angustiante situação.

E sentia que as dores lhe pertenciam porque precisava conhecer cada uma delas, de todos os jeitos, sentir tudo o que havia para se sentir, para poder entender do que sofriam as gentes com quem vivia e assim, conseguir dar um pouco de conforto e alívio para elas, nem que fosse só com um gesto, só com um toque ou só com uma palavra.

O destino lhe tinha sinalizado e o encontraria sempre. Já estava certo disso e por esse mesmo motivo nem fazia nenhuma tentativa de fuga. Sabia que seria inútil. Aonde se escondesse, por onde andasse, ele se confrontaria com a verdade absoluta de sua vida, a missão a que tinha sido destinado desde o momento da sua concepção: a do sentir para ser. E só.

domingo, janeiro 27, 2008

Nuvem cinza no céu anil

E no céu de anil apareceu uma nuvem cinza.
E ela roubou a cor do dia.
E da nuvem cinza jorrou água, como há muito tempo não se via.

E tanta chuva encharcou quem ficou ali e não quis correr e se esconder.

E a nuvem veio sem pressa de ir embora.

E ela veio para provar que dias azuis não duram para sempre.
Ou apenas para provar que eles não são completamente azuis.
O céu é que é muito grande.

Caixas de nostalgia

Mudar de casa traz além de novas expectativas de vida um mundo de recordações que vivemos até hoje.

Em cada gaveta, em cada caixa, um monte de lembranças. De tempos idos, quando amávamos com o mesmo desespero com que chorávamos nossas desilusões. De épocas em que nossos dias se dividiam entre estudar e sair para a rua encontrar os amigos.

Amigos que foram os melhores durante anos, meses, dias. Amigos que ainda são os melhores. Amigos que mesmo que o tempo tenha levado pra longe, quando encontramos, é como se nunca tivessemos ficado sem contato.

São fotos, são bilhetes, são agendas. Um mundo de registros que nos confirma o quanto fomos felizes. E que precisavamos de muito pouco para nos sentirmos assim.

Ah, quanta saudade...

sábado, janeiro 19, 2008

Seguro desconforto

Com medo de me perder, me contive.
E percebi, para minha surpresa, que desse jeito mais perdida fiquei.
Sem caminho e sem solução.
Perdi o trem que me levaria talvez para um feliz lugar desconhecido
Deixei passar a oportunidade de me deixar levar
Fiquei aqui, sentada, com a minha segurança ignorante,
Apoiando os braços numa mala de saudade.

segunda-feira, janeiro 14, 2008

Uma só

Me empresta uma palavra?

A sensação boa que me causas me deixa sem nenhuma
Fico aqui, sentada, olhando a página em branco
Esperando que a caneta traduza tudo aquilo que queria dizer
Corro os olhos para o alto em busca de algo que não consigo explicar
Busco no físico algo que não verei nunca
Por favor, entenda meu silêncio e não o recrimine
Pois o que quero partilhar é tudo aquilo que sinto
Que está aqui guardado
Dentro desta lata velha que também ouso chamar de coração.

domingo, janeiro 13, 2008

Sobre o silêncio

Quanta coisa pode ser escondida pelo simples fato de não existirem palavras?

Nos calamos com freqüência quando não temos as respostas certas ou apenas quando não temos coragem o suficiente para proferi-las. E não somente porque a verdade possa doer, porque a tememos mesmo quando ela revela grandes coisas boas.

Talvez porque depois que as palavras são ditas elas concretizam pensamentos e não podem ser apagadas ou modificadas. Pode ser porque nunca sabemos com antecedência a reação de quem as receberá. Ou pode ser apenas porque mesmo quando imaginamos que as dominamos, elas fogem de nós quando mais precisamos.

O fato é que, por outro lado, o silêncio também pode ser interpretado de muitas formas. E se não ousamos falar, por medo, apreensão ou timidez, estamos deixando que ele fale por nós. E sem saber se ele será um bom interlocutor. Se não dominamos as palavras, dominamos muito menos sua ausência.

Sinais de vida

Coração prisioneiro nas mãos de um gigante
Pequenino
Pulsa devagar
Para que o monstro não sinta
E, percebendo que ainda está vivo,
Aperte com força até parar.

domingo, janeiro 06, 2008

Desilusões

Há sempre um pouco, ou muito, de ilusão no que é sonho. São sempre apostas, que tanto podem se transformar em alegres realidades ou desalentadoras lembranças.

Quanto mais se investe, maior o risco. E nem é preciso tanto esforço para colocar muitos créditos naquilo que imaginamos que queremos, seremos ou teremos... A capacidade de imaginar nos deixa sempre à mercê do imprevísivel.

Às vezes, meia dúzia de palavras matam a esperança. Destroem construções, liquifazem em lágrimas projeções. Às vezes, nem tantas.

sábado, janeiro 05, 2008

Para quem na ausência me acompanha

Nesta tua falta sobra tanta ausência que eu me pergunto até onde vai a saudade e o quanto disso tudo é apenas costume.

Nas palavras que uso e só você entende, nas caretas que faço e te divertem e nas lembranças que vêm e voltam a todo momento sinto que você passou a fazer muito mais parte da minha vida do que eu supunha.

Penso que não adianta suprimir o que sinto e tentar evitar que isto aconteça. Já sei e posso prever que novas cicatrizes virão. Concluo, enfim, que se tudo é tão breve e passageiro, não faz sentido que coisa alguma, ainda mais quando faz bem, seja impedida de ser o que deve ser.

quarta-feira, janeiro 02, 2008

Metades de mim

Sou metade sol, metade lua. Parte de mim é fogo e outra parte é água. Um pouco de fel e um pouco de mel, um lado de bondade e outro de pleno veneno. Sou palavra e sou silêncio, sou céu e sou chão. Sou riso e sou pranto, sou imagem sem som e sou canto.

Sou duas e cada uma anda só, porque não conseguem existir na presença da outra. Andam sozinhas porque mesmo juntas estão solitárias. Não se dão as mãos porque ambas oferecem a palma para cima. Não conversam porque não se entendem, não se olham porque não se aceitam.

Perderam a vida assim, duelando silenciosamente. Fingindo que a outra não existia, ignorando o que a outra sentia e desprezando o que a outra fazia.

E no dia em que tentarem se encontrar, nada mais poderá ser feito. Não há de existir nenhuma ponte que as ligue, o abismo vai ser tão grande que só poderão ouvir o eco de sua própria voz chamando.

terça-feira, janeiro 01, 2008

Liberte-se

Faça com que seus dias sejam diferentes. Invente uma coisa nova para fazer em cada um deles. Ouse arriscar. Coloque aquela cor de blusa que você não tem coragem. Ou o chapéu que você acha que fará as pessoas rirem de você. Que riam. Melhor fazer as pessoas felizes do que tristes. Saia sozinho para um passeio onde vai haver muita gente e conheça novas pessoas, faça novos amigos. Converse com pessoas nos pontos de ônibus. No elevador. No mercado, peça ajuda para escolher uma fruta para quem está na mesma banca que você, apenas pelo prazer de puxar conversa. Fale com o porteiro, com o cobrador do ônibus, com o garçom. Pergunte como vai a vida e ouça, atentamente. Faça coisas que geralmente você não faz porque alguém pode te achar idiota se o vir fazendo. Corra para não perder o ônibus, lamba os dedos, ria alto, tire fotos com as réplicas em papelão de personagens nos cinemas, use listras e bolinhas simultaneamente. Não encha sua agenda apenas de coisas sérias, mesmo que isso te faça dormir um pouco menos do que gostaria. Reserve muito tempo para seus amigos. Não fure compromissos com eles por sono ou cansaço. Mande cartões de aniversário. Por correio. Ande de bicicleta, faça passeios a pé. Ande por ruas desconhecidas, se deixe perder em algum lugar. Conheça lugares diferentes. Se não der para ser cidades novas, que sejam novos botecos, novas praças, novos cinemas, novos mercados. Brinque de amarelinha. De esconde-esconde. De brincadeiras de criança.

Está em nossas mãos fazer cada dia deste ano melhor do que qualquer outro que já vivemos. Liberte-se dos pré-conceitos, dos idealismos, dos cabrestos e ouse. Ouse sempre mais.

Um 2008 usado de tão ousado para todos nós.