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quinta-feira, abril 19, 2007

Os sonhos pensados

Abriu a porta do quarto e sorrateiramente entrou. Enfiou a mão embaixo da cama e tirou de lá o potinho de sonhos, tão bem guardado.

Foi tirando seu conteúdo, um a um, olhando para todos como se fosse a primeira vez que os visse e tentando descobrir em cada um a sua razão de existir.

Percebeu que alguns estavam amarelados, outros o tempo tinha dado conta de apagar boa parte de seu histórico e uns tantos possuíam buracos feitos por pequenas traças.

Ficou pensando que a máquina que produzira todo esse material tinha que ser melhor utilizada, para não ficar gerando arquivos que só consomem espaço, mas que depois são esquecidos, abandonados, colocados de lado.

Picou, rasgou e jogou fora tudo aquilo que considerou inútil. Não guardou registro nem das belas ilustrações que alguns possuíam, nem dos versos mais poéticos e nem dos sons encantadores.

E a partir desse dia, deixou a razão controlar a máquina de fazer sonhos. E a máquina começou a render mais. Mas já não fazia desenhos coloridos. Nem poemas. E nem música.

E embaixo da cama ficou só o piso frio e vazio.

quarta-feira, abril 11, 2007

Gramde alguém

Eu fujo, me escondo e corro, na tentativa de esquecer a tua imagem. Ocupo meus dias com o trabalho e as tarefas do lar só pra ver se isso me entretém e afasta meu pensamento pra longe de você.

Mas tua presença é como a sombra do corpo, não desaparece, não some e mesmo na escuridão qualquer ponto de luz a revela.

De onde vem tanto sentimento? O que é que pode ser mais forte?

Basta um segundo com você para sentir a mesma emoção do primeiro encontro. O som que vem de ti me envolve num abraço quente, e eu volto a sentir conforto, acalento e sossego.

Quanto tempo ainda falta para eu te ver? O tempo que fico longe são como as noites infinitas dos contos árabes.

Com tuas palavras conheci um mundo novo, com o qual me identifico. Foi com elas que descobri em mim uma fonte insaciável de sentir, de escrever e de ser.

E tudo pode acabar amanhã, de uma maneira tão rápida quanto nasceu. É provável e inevitável. Mas para sempre vou levar tuas notas, teus tons, teus sons, como lembrança do divisor de águas em minha vida.