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sábado, dezembro 29, 2007

Aos bons amigos, por 2007

Um ano tem 365 dias (ou 366, em alguns) em branco, a serem preenchidos com todo tipo de imagem, de som, de cheiro, de situação, de gente, de lugar...São 365 novas páginas que podem ser escritas pedaço a pedaço, dia após dia. E não importa se faz sentido com o que escrevemos ontem, desde que o propósito seja, no fim, ter uma obra repleta de recordações boas, que nos faça sorrir de novo, como na primeira vez. E repleta também de aprendizados, de histórias para contar, de coisas que não podem mais ser feitas, que sabemos que não podem mais ser feitas.

Cada página é escrita pelo dono de cada história, ou seja, cada um de nós. Porém, ela só é completa e só acontece, com a ajuda de outros escritores, que são muito além de leitores e coadjuvantes de nossos contos. São co-autores.

As folhas em branco não são só preenchidas com palavras, mas também com cores, com imagens. Vão além: podem ter música, podem ter sentimento, podem ter cheiro. Enfim, nosso grande livro da vida pode ser do jeito que a gente quiser, quando a gente quiser... Basta só tomar a caneta para se criar...

2007 foi um livro cheio de páginas coloridas, com cheiro de terra molhada e de café, de São Paulo amanhecida. Teve o embalo dos bons rocks e dos sons de dedos rápidos nos teclados e de carros passando. Também teve gente cantando, brincando, correndo. Foi um ano cheio de páginas sérias, mas que são muito necessárias e bem-vindas para construir novos rumos, planos e sonhos.

Foi uma história de gente. De muita gente. De gente que chegou e que se foi, de gente que estava e quis ir, de gente que já estava e continuou e de gente que chegou e quis ficar. Foi com a cor de suas canetas que pintei a minha vida e decorei a minha história neste ano.

Sem eles, meu livro seria só um punhado de páginas em branco ou de monólogos sem graça. Que Deus permita que possamos todo ano celebrar histórias inesquecíveis, as minhas e as suas!

Escolhas

Levei tanto tempo pra entender
Demorou muito para sarar
Agora que tenho o controle
Quem você pensa que é para me fazer voltar atrás?
Não são tuas palavras bonitas
Nem teus cortejos programados
E nem mesmo toda sua beleza há de me fazer abandonar
Minha liberdade
Meus dias de primavera
Meu boteco com amigos
Meu sono tranqüilo
Meus olhos sem lágrimas
Enfim, não há nada que eu queira abandonar.

Nada.

quinta-feira, dezembro 27, 2007

Revisitando a dor

Curiosa, quis saber se ali ainda podia encontrar vida. E num movimento sem cálculos nem medidas, abriu os braços para o golpe certeiro. E o sangue correu e as lágrimas rolaram.

A dor foi tão intensa quanto da primeira vez. O pulso latejava, com a cabeça girando, tentando entender por que, se já conhecia o fim, permitira a agressão.

Sentir com cada centímetro do corpo, voltar a ter sensações. Talvez isso justificasse. Talvez não.

Chuva

Quis tanto não chorar que choveu. Torrencialmente.

E cada gota da chuva que caía batia no chão com a intensidade que o coração sentia. Cimento não sente dor. E foi assim que descobriu que não era feita de pedra.

A chuva ainda não parou.

sábado, dezembro 15, 2007

O fim do ser e do estar

Como pode alguém ocupar tanto espaço na vida de outra pessoa, mesmo que pareça não existir?

Olho pra casa vazia que ecoa todo som, toda voz e vejo que não são somente os móveis que foram embora. Foi toda a presença de uma vida partilhada. Foram os risos, o arrastar de chinelos, a batida das portas, a cantoria no chuveiro, o cheiro de comida ficando pronta.

Foi tudo isso e foram todos os detalhes desta relação que deixaram este lugar vazio, com seu piso frio, com suas paredes sem cor.

As janelas permanecem cumprindo seu dever de espiãs, de dentro pra fora, de fora pra dentro. Elas, que outrora foram testemunhas de dias felizes, hoje choram, em luto pelo sentimento que se foi...

O fim é um capítulo filmado numa sala branca e vazia.

Restos que ficam para trás

Tô brincando de me arriscar.
Tô gostando de correr o risco
De me perder
De me esquecer
De não lembrar
De não pensar
Tô querendo experimentar
Me libertar

Botar à prova este velho coração de ferro.