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sábado, março 31, 2007

Rotações

A Terra gira um dia inteiro para que o Sol a veja em todos os seus cantos, e ele um ano inteiro para ser visto por completo.

Assim também é com a gente: é preciso que a vida dê muitas voltas para conhecermos todos os lados, todas as faces de uma pessoa.

Podemos dizer que conhecemos bem alguém quando já a vimos chorar de tristeza e por amor, rir de alegria e de nervoso, gritar de emoção e de medo. Quando ela já contou algum segredo, quando não escondeu uma cara brava e nem evitou um pedido de desculpas.

Cada um reage de uma forma frente às situações da vida. E a gente vai se descobrindo, a cada dia, a cada nova experiência, e se deixando descobrir também. Somos cheios de facetas, temos várias maneiras de agir.

Descobrimos assim, aqueles que vão ficar pra sempre na nossa vida. Aqueles que vão ver nossa vida passar por várias fases, girar, dar muitas voltas, e vão continuar ali, pacientes, esperando o ciclo completo se encerrar pra dizer, que apesar dos altos e baixos que se passaram, o que importa foi o que cresceu com toda essa transformação: a amizade.

Porque amizades verdadeiras giram juntas na ciranda da vida.

Segundos de sabedoria II

O açúcar tem que ser usado na medida certa, pois basta juntar algumas gotas de água para ele tornar-se melado.

Consultório

E a gente paga pessoas para nos dizerem que a nossa realidade não é tão colorida quanto a gente pensa e que nossos sonhos são apenas utopias e ilusões da nossa mente.


Grandes bobos que nós somos. Se nos preocupássemos tanto como as crianças com tudo isso, seríamos mais leves, mais crentes e estaríamos muito mais perto da felicidade em todos os momentos.

Sinto que andamos para trás toda vez que desconfiamos que podemos alcançar nossos objetivos.

domingo, março 11, 2007

Os donos do mundo

Não, não. O mundo não é dos educados. Se te disseram isso, te enganaram. O mundo também não é daqueles que pensam nos outros, se preocupam com o bem estar coletivo, respeitam o próximo e o ambiente onde vivem.

O mundo não é daqueles que devolvem o dinheiro encontrado em alguma pasta perdida num saguão qualquer, nem daqueles que dão a vida salvando vidas de outras gentes no meio da guerra. Nem tampouco é daqueles que dizem a verdade, são transparentes e querem a paz.

Porque se fosse, não seriam casos exclusivos e raros os de pessoas reconhecidas por seus atos de bondade. Na verdade, nem precisariam ser reconhecidos os atos, porque seriam comuns a todos. Chamaria a atenção quem fugisse à regra, quem violasse as boas normas, quem desrespeitasse um ser humano, quem magoasse e ferisse um coração.

Sairiam nas manchetes de jornais como algo extraordinário aquelas pessoas que mentiram e enganaram, que sujaram e poluíram, que fizeram pouco caso de qualquer pessoa, por qualquer motivo.

E o mundo nem mesmo é dos espertos, porque se fossem realmente espertos, eles pensariam na sua sobrevivência, já que a capacidade de pensar em si só fala muito mais alto nesses tempos modernos.

O mundo é desses aí, que fazem de tudo para acabar com todo tipo de bem estar. E não adianta discordar, porque se não fosse verdade, não seria assim. Quem manda na casa sempre faz o que quer com ela, dentro dela. Quem não manda, só assiste, e às vezes, até obedece. É o que diferencia o dono do visitante.

sábado, março 03, 2007

História de uma noite de chuva

Estou atrasada. Olho para o relógio e prevejo que nada do que havia planejado para a noite seria cumprido. Trânsito parado, chuva na janela do ônibus, o sono me ganha.

Acordo ainda em meio à grande massa de carros que se aglomera na tentativa de ganhar a liberdade, pista livre. Olho novamente o relógio, já foi. Perdi meu compromisso.

Através da janela vejo as pessoas correndo para não se molharem. Não faz frio. Alguns tentam ironicamente se proteger da chuva com carteiras e braços erguidos e esticados sobre as cabeças... Vã ilusão...

Enfim, metade do meu destino está cumprido. Preciso descer e tomar outra condução para ir pra casa. Podia ficar mais no ônibus, ir até o ponto final. Mas a chuva me chama. Noite de chuva, convite para um passeio pela minha avenida preferida, não recuso jamais. Combinação perfeita. Chego a agradecer por ter perdido o horário, talvez fosse disso que eu mais precisasse naquele dia: um momento comigo mesmo, num lugar onde me encontro.

A passos completamente vagarosos sigo o percurso que minha mente já conhece, e por isso me poupa de pensar em qual lado da rua andar, e para onde seguir. A chuva deixara de ser fina, mas isso não era um problema, e sim, um alívio.

Alívio pra alma, alívio pro coração, cansado, judiado, de tanto sentir, de tanto tentar entender. "É preciso lavar a alma", era o que ele gritava lá dentro, na sua maneira tum-tum de se expressar. Chuva lava a alma. Leva embora aquela poeira cinza que acumula, que colocam nos nossos ombros. Ele queria, eu queria, ambos estavámos de acordo com a situação.

Vários transeuntes passam. Um deles segue no mesmo passo que o meu, ao lado. Penso que talvez ele esteja querendo lavar a alma também. Seu coração deveria estar aflito por sossego assim como o meu. Pensei em travar uma conversa, mas caminhar na chuva pra aliviar as tensões é às vezes um ritual que precisa se fazer sozinho.

Buzinas, luzes, pessoas, carros, poças, risadas, cheiro de comida de boteco. Sensações. Milhares delas sentidas em uns tantos minutos de caminhada. Os olhos se enchem de tanta coisa pra ver, o coração respira outros ares, aliviado por estar sentindo novas e diferentes sensações.

Meu caminho acaba ali, na casinha arredondada de vidro. Uma vez mais antes de entrar eu olho pra trás, pra minha avenida preferida, respiro... Uma, duas, três vezes...

Adeus, eu volto, em breve.