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sábado, fevereiro 24, 2007

Traições II

Entendi o ciúme como proteção, porque quando a gente gosta de verdade de alguém fecha os olhos pra realidade que está bem em nossa frente.

Entendi suas carências apenas como necessidade de carinho, quando no fundo mesmo é apenas teu egoísmo querendo tudo pra si: olhares, atenções, risos...

E agora que eu choro e preciso do teu ombro amigo, só encontro a tua risada cínica, de quem parece sentir prazer em me ver sofrer. E ainda faz esse jogo ridículo e infantil em que você me usa para ganhar ibope.

Percebi com isso que tanto você quanto eu temos um problema sério: o seu mundo é só você, meu mundo é só os outros.

E isso não dá vantagem a ninguém: são dois universos falhos e incompletos. Uma hora ou outra sentiremos necessidade da parte que falta.

Mas, pensando bem, quem tem uma desvantagem é você: quando precisar de outro alguém pra pensar em você, eu vou estar pensando em mim.

domingo, fevereiro 11, 2007

O saquinho verde e cinza

Estou juntando saudade num saquinho verde e cinza. Tô juntando tudo para que na hora certa eu não deixe passar nenhum abraço, nenhum beijo, nenhuma palavra.

A saudade é grande, mas é compacta. Por isso dá pra ir juntando tudo no bolso durante o dia, e quando a noite chega, os pedacinhos se juntam aos outros tantos de datas passadas.

O saquinho é meio verde, porque sempre guarda esperança, mas é meio cinza, porque sempre rouba um pouco do sorriso. Ele tem o tamanho certo para não estourar, cabe a medida certa para não pesar.

O saquinho nunca fica vazio: quando se vai começa a se juntar saudade do que ficou, e quando se volta, fica a saudade do que aconteceu. Ele tem um cheiro novo, com aquela velha sensação de já ter sido sentido antes.

E como saudade é uma panela grande de cozinhar sentimentos, ela não vai sozinha no saquinho.

No saquinho verde e cinza não cabe só saudade.

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Lugares desconhecidos

Sentada num lugar que provavelmente não foi pensado para mim, não foi destinado para mim, eu páro e vejo o mundo passar.
Cenas do cotidiano, tão comuns aos transeuntes, me parecem cenas de outro mundo. Não me sinto à vontade, não consigo relaxar, não consigo imaginar que tudo isso é um ciclo e que faz parte da vida passarmos por todas as fases.
Desconheço o que falam. Não sinto o que sentem. Não vejo as mesmas imagens.
Sinto que não faço parte desse mundo, não me sinto parte desse lugar. Sou aquele som que distoa no meio da orquestra, aquela bola escura entre todas as claras.
Não consigo compreender porque as pessoas precisam ter embalagens. Não me conformo do conteúdo valer menos que isso. Fico chocada com o descaso aos sentimento dos outros.

Paraliso. Sinto vontade de chorar. De correr. De pular.

Às vezes essa sensação vai embora. Mas sempre que ela volta, a dor que sinto é muito mais intensa.

sábado, fevereiro 03, 2007

Segundos de sabedoria

A vida é como um eterno jogo de enfiar a mão dentro de uma caixinha e tirar a sorte do agora.