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segunda-feira, abril 20, 2015

Sobre a coragem

Coragem é aquilo que você sente quando decide experimentar aquela berinjela que há tanto tempo rejeita. É a força que te faz não desligar o telefone depois de teclar os números que te fazem tremer. É aquele sorriso no canto do lábio que nasce quando ergue a mão para pedir a palavra na reunião. É aquele grito que ecoa na corridinha pra saltar de parapente. Coragem é aquela companhia de viagem quando se está a caminho de um destino desconhecido, sozinha. É a amiga que aconselha a fazer a declaração de amor. É também o aperto no peito antes do pedido de desculpas.

Coragem não tem tamanho porque ela é sempre grande no segundo que antecede o momento que precisa dela.

sábado, janeiro 10, 2015

B de busca

De Buenos Aires a Berlim
Brindei à boemia
Bailei nas batidas brits de Bowie e Beatles
Brinquei com borboletas
Beijei a boca do bandido
Bradei bobagens
Batalhei contra bruxas bravamente
Pelo bel-prazer de bordar
Minha biografia.

quarta-feira, dezembro 31, 2014

feliz ano novo

Mensagens de feliz ano novo surgem, aos borbotões. Dos amigos distantes, daqueles que estão na mesma sala que você. Da família, daquele primo que você nunca vê. Dos colegas de trabalho, mensagens polidas e alinhadas com a felicidade corporativa esperada. Da loja onde foi comprada a roupa nova para a ceia, dos sites de comércio eletrônico, do seu banco. Uma passagem rápida pelas redes sociais e diversas selfies anunciam a felicidade de se estar em qualquer lugar, de aruba ao apartamento da vizinha. Os paus de selfie permitindo mostrar que você está no melhor lugar do mundo, ou pelo menos no mais movimentado. Ouvem-se os fogos, os latidos de cachorros, as gritarias, as canções dos rádios. Amanhã vamos acordar em um ano novo, vestindo roupas usadas, comendo o resto da ceia e sem nenhuma novidade pra contar, porque tudo já foi exposto. Se ao menos tivermos um coração novo, renovado pelas promessas feitas à meia-noite, poderemos acreditar que será um ano bom. Não só para os afortunados que celebraram a passagem de ano, mas para todo O mundo.

quarta-feira, setembro 17, 2014

tempos insanos

Estou sofrendo de um amor mal criado. Cresceu rebelde, sem minha autorizaçäo. Como uma grande ventania, espalhou todas as minhas certezas pelo chäo.

terça-feira, outubro 29, 2013

Parte de mim

Me perdi. Em alguma curva da vida deixei cair um pedaço genuíno de quem sou. Ou de quem era. Agora já não sei. Também não sei se tanto faz. Há um pedaço de mim perdido em algum lugar. Há um pedaço que não é meu dentro de mim. Talvez enquanto dormia acordada alguém fez a troca. Talvez na busca por mim mesma me perdi do que era mais real.

terça-feira, março 19, 2013

Voar, voar

Como um balão solto, perdido, arrastado pelo vento. Assim se vão meus pensamentos, meus sentimentos. Sem rumo, sem prumo. Um céu azul como fundo das mais longas divagações se abre para uma viagem sem destino. Sem saber onde ir, sem saber se vai chegar. Assim como o balão, tudo em algum momento vira um ponto colorido indefinido no infinito. E em breve já não há mais ninguém tentando descobrir onde ele vai parar.

domingo, janeiro 20, 2013

Fuga

Sempre que sentia tristeza, fazia as malas e partia. Ia embora sempre com a dor da despedida, mas acompanhado da alegre certeza de que as pessoas dão mais valor àqueles que se foram.

sábado, dezembro 22, 2012

Antes e depois do fim

Abriu lentamente a janela, com o receio de encontrar tudo o que não queria ver na primeira fresta de luz. E luz foi a primeira coisa que viu. Um céu azul e brilhante dava um espetáculo para todos que tiveram a coragem de olhar além das cortinas de ferro. Descobriu que não só havia pessoas abrindo as janelas, mas com outras já tinham tomado as ruas. Caminhavam sem mesmo perceber o milagre que ele parecia estar presenciando. A vida seguia seu rumo, buzinas, vozes, ranger de portas abrindo... O dia vinha anunciar que não só o fim do mundo não havia chegado, mas especialmente que a vida precisava ser celebrada. Decidiu que seria sim o fim, mas de toda coisa que o afastasse da coragem de viver a vida. Abriu mais ainda a janela e gritou. E gargalhou. E o mundo em que vivera até o momento chegava ao fim ali.

domingo, setembro 09, 2012

Onde foi que eu deixei

Começou com um buraco, um bem pequeno que mais parecia uma toca de rato. Depois vieram os outros. E foi-se embora a grama. E vieram abaixo as paredes. Pás, martelos, picaretas. Usou de tudo para cavar ainda mais fundo. Mas de nada adiantou. Não lembrava onde tinha enterrado seus sonhos.

domingo, setembro 02, 2012

21 dias

A solidão o aproximou daquilo que tinha de mais precioso na vida, suas verdades. Podiam ser verdades só suas, mas conseguiam tirar sua vida da inércia e fazer correr mais rápido o sangue em suas veias. Desligou o celular, cancelou a conta da internet. Ficou só consigo e com seus amigos mais íntimos, seus escritores preferidos, e com as lembranças de tudo que já vivera de mais lindo e poético. Foi como um período de desintoxicação. Após 21 dias acordou acreditando que ainda era possível fazer verso dos seus dias.