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sábado, fevereiro 23, 2008

Sobre a saudade

Sentir saudade e sentir falta de alguém. Dois sentimentos tão próximos, que acabam se confundindo. Mas que, de fato, possuem intensidades tão distintas...

Sentir falta de alguém é como sentir falta de uma blusa no meio de um vento frio. A primeira que se encontra e aquece faz fugir da lembrança a imagem da outra com a qual se sonhou. Às vezes sentimos falta de um abraço ou de colo, do gesto em si, sem nome e sem rosto para resolver. E a primeira pessoa que oferece seu regaço sacia nossa necessidade e sossega nossa ansiedade. Mas isso não é saudade...

Saudade não tem cura enquanto não se mata com o que se idealiza, com quem se idealiza. Saudade tem nome, tem endereço, tem som, tem cheiro, tem imagem. Saudade não se mata com algo que seja parecido. Saudade não vai embora com remediações. Saudade dói. Saudade faz chorar, faz sonhar, faz planejar, faz fazer acontecer.

É mais bonito dizer que sente saudades. Às vezes até mais conveniente. Mas a saudade... ah, saudade de verdade a gente reconhece de longe. Mesmo quando nos faltam palavras para descrevê-la.

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Regras da vida

Resisto, implico, insisto. Por que é tão difícil se soltar e deixar que a vida rume o caminho que deve seguir?

Nos ensinaram desde sempre que temos que ter controle do nosso mundinho, que devemos segurar as rédeas de nossa existência e, assim, o sofrimento perpetua, passado de geração em geração.

Nossas experiências com a retidão nos coroam publicamente, mas deixam grandes marcas e cicatrizes dentro de nós.

Enquanto a nossa mente é livre e viaja por todos os cantos onde gostaríamos de estar, nossos sentimentos são jogados e presos em celas, em cantos escuros de nosso coração.

Triste herança, ousado hábito a se adotar.

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Disfunções hormonais

Quanto tempo desperdiçado em divagações alucinógenas.
Quantas horas perdidas pensando naquilo que não existe.
Quantas mágoas guardadas por situações que não aconteceram.
Quanta raiva sentida por razões sem justificativa.

Quanto prazer a TPM nos tira?
Quanto dinheiro gasto com feminismos?

Quantos botecos perdidos...

terça-feira, fevereiro 05, 2008

Dois toques

Hesito diante do telefone. Será que devo?

Queria ouvir sua voz, mas não quero que perceba que estou doída de saudade. E não quero porque sou tola, insegura. Percebo com isso que ainda não aprendi a dar a cara ao tapa para assumir o que sinto.

O telefone está aqui, ao alcance da minha mão. Giro-o com os dedos enquanto meu estômago se espreme de ansiedade. Eu não sei se já descobriram, mas definitivamente ele se conecta de alguma forma ao coração, porque à medida em que as batidas ficam mais intensas, a náusea aumenta.

Ridícula! E qual é o problema se ele achar alguma coisa? O que você sente é seu e não faz nem de você nem dele pior ou melhor, maior ou menor.

Ligo? Não ligo. Ligo! Afinal, no fundo, é o que quero. Falar, saber como está.

Liguei. Um toque. Será que desligo? Dois toques.

- Alô?

segunda-feira, fevereiro 04, 2008

Sem aviso

Bang!

O bandido atira e acerta. O mocinho cambaleia pra um lado e para outro, com a mão posta no coração como se pudesse com a ponta dos dedos prover a mágica de curar todo mal que faz doer.

Seus dedos são curtos, sua fé é pouca e a multidão que tudo acompanhava foi embora num estalido. Ficaram só ele, a dor e a pouca vida que aos poucos também se retirava.

sábado, fevereiro 02, 2008

Marcado pelo destino

Era sempre assim: quando as dores chegavam para dilacerar sua alma, sentia como se tivesse aberto os braços para uma chuva de pequenas agulhas que caíam, atiradas propositadamente contra ele. Podia ver-se fechando os olhos, sabendo cada passo da dor que iria sentir, como se estivesse predestinado a sofrer sempre esta angustiante situação.

E sentia que as dores lhe pertenciam porque precisava conhecer cada uma delas, de todos os jeitos, sentir tudo o que havia para se sentir, para poder entender do que sofriam as gentes com quem vivia e assim, conseguir dar um pouco de conforto e alívio para elas, nem que fosse só com um gesto, só com um toque ou só com uma palavra.

O destino lhe tinha sinalizado e o encontraria sempre. Já estava certo disso e por esse mesmo motivo nem fazia nenhuma tentativa de fuga. Sabia que seria inútil. Aonde se escondesse, por onde andasse, ele se confrontaria com a verdade absoluta de sua vida, a missão a que tinha sido destinado desde o momento da sua concepção: a do sentir para ser. E só.