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segunda-feira, outubro 12, 2009

Todo dia é essa mesma labuta

Vou caminhando pela cidade, por esse mar de gente que vem e que vai para todo lugar, sempre com pressa, pouco ou nada vendo quem vai ao lado. Ouço no rádio que os economistas acham que a taxa de juros subirá 1,5%. Anoto mentalmente que preciso ler mais sobre o assunto, afinal, é a típica informação que vai interferir em todos os pontos do meu cotidiano, do meu trabalho às compras do mercado.

Enquanto aguardo pelo ônibus, vejo passar uma moça que leva a edição diária de um dos jornais populares gratuitos distribuídos em semáforos e terminais urbanos. Na capa, a China estampada. Época de olimpíadas, aliás, quando começam os jogos mesmo? Puxa, preciso prestar atenção nas datas e na programação para ver o que consigo assistir.

Já dentro do coletivo, mudo a estação e volto à leitura do meu livro. Essa é a vantagem de não dirigir: aproveito o tempo no trânsito para ler. No rádio, a nova música de uma das minhas bandas preferidas. O álbum foi lançado esta semana. Preciso passar numa loja de CD e ouvir as outras e, além disso, me atualizar. O que estarão fazendo todas as outras bandas que eu gosto?
Já no trabalho, um milhão de coisas novas na caixa de mensagens. Como as pessoas gostam de mandar email! Tanta coisa pra ler, muitas requerem aprofundamento teórico. Preciso procurar um curso mais específico dos assuntos que tenho tratado, para não ficar desatualizada. Preciso ler também as notícias diárias da empresa, da concorrência e do mercado. Em algumas apenas passo os olhos pelos títulos, não dá tempo de ler tudo, o telefone toca e me pede para sair da mesa, lá vou eu.

No almoço, conversas giram em torno de política. Estamos em ano eleitoral. Mais um assunto para prestar atenção, quem são os candidatos, quais as propostas, quais as campanhas malucas. Tanto diz-que-me-disse precisa ser validado, opinião todo mundo tem uma, sempre diferente. E as eleições nos Estados Unidos então? Comício mundial, disputa acirrada. Quando é que eles vão decidir mesmo?

No celular chega uma mensagem: “Cinema hoje à noite?” Me recordo que deixei o guia cultural em casa e não tive tempo nos últimos dias de me atualizar sobre o que está em cartaz. Respondo dizendo que sim e que aceito sugestão de filme, ainda bem que quem convida tem um gosto confiável.

Volto a sentir as mesmas dores musculares e de cabeça e lembro que ainda não fui ao médico. Nem ao dentista. Acho que preciso de atividades alternativas, mas até hoje não fui a nenhuma academia ver os cursos e aulas que listei caprichosamente numa folha da agenda.

Levo, pro caminho de volta, umas tantas coisas para revisar e outras para ler. Mas a dor de cabeça tomou proporções intensas e prefiro fechar os olhos e ligar o rádio novamente. Na estação, o repórter dá as últimas notícias do trânsito. Agora tem rodízio de caminhões também. E ainda estão discutindo a questão do pedágio no centro expandido. Os impactos estão sendo medidos, números, depoimentos, manifestações contra e a favor. Não estou tão por dentro do assunto, mudo, prefiro ouvir uma música. Na outra sintonia, um programa que temático explica o contexto histórico de cada canção. Como eu gostaria de entender mais de jazz. E de blues. E de outros tantos ritmos e das produções. Faço a promessa mental que vou estudar mais sobre o assunto no fim de semana.

Corro pra dentro de casa. Uma ducha rápida, mas necessária, relaxa o corpo tenso de tanta agitação. No jantar, penso que deveria me interessar mais pelo que estou comendo. Ter uma dieta equilibrada, não para emagrecer, mas para ser saudável. Eu deveria entender pelo menos um pouquinho do que cada alimento faz. Não é papo pra quando se está com fome. Na TV, o fim do jornal da noite traz notícias que nem sequer chegaram perto de mim durante o dia: seqüestros, futebol, violência no RJ, fofoca da semana e efeitos do calor excessivo em alguns lugares do mundo.

Deito com a sensação de que não sei mais nada. Nada além do que gira em torno do meu umbigo. Olho pro relógio, injusto. As horas passaram tão rápido que nem o tempo necessário de sono eu terei. Penso em procurar um curso sobre gestão do tempo. Quem sabe assim, eu economizo uns minutos e aí eu posso ler mais, saber mais, sobre esporte, educação, geografia, as guerras, as eleições, sobre entretenimento, sobre saúde, sobre política, sobre...

Zzzz