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segunda-feira, novembro 24, 2008

Momento nostalgia

Quanto mais distante se fica, mais próximo estamos daquilo que deixamos para trás porque é a saudade que nos une. Passado é coisa de quem tem histórias e quem não quer contar as suas é porque ainda não se arrependeu de não sentir nostalgia. Presente é a oportunidade que se tem de fazer coisas que possam ser memoráveis depois, sem pensar em grandes coisas, mas sim naquelas que para nós pareçam grandes, mesmo que seja sentar no degrau da escada e ver a vizinhança passar ou botar a mala nas costas para morar em outro lugar. Qualquer coisa que chegue ao coração. Nada, mas nada mesmo, que não chegue perto de tocá-lo poderá ser lembrado depois com brilho nos olhos e saliva na boca. Saliva de vontade de viver tudo de novo, de voltar a ter 7, 8 anos e correr pelas ruas esfolando o joelho, caindo e levantando porque não se tem tempo para perder e porque chorar por besteira não vale a pena. Vontade de encontrar o primeiro amor, só porque as pernas ficavam bambas, de ir pra escola, de dormir na casa dos amigos, de empinar pipa e chutar bola na rua e de tantas outras coisas mais. Sem perceber, toda vez que recomeçamos ou damos início a alguma coisa é porque temos a vã ilusão de que poderemos ser tão despretensiosamente felizes como éramos antes, quando a palavra felicidade não fazia parte da lista de objetivos. Nem dos do dia, nem dos da vida, diga-se de passagem.

quinta-feira, novembro 13, 2008

sábado, novembro 01, 2008

A última folha em branco

Aquela angústia presa, afoita por liberdade, ganhou como única forma de expressão umas tantas folhas em branco e um lápis mal apontado. Por um instante, olhou praqueles pedaços de papel com o desprezo por um objeto que não tinha e não representava nada. Porém, aos poucos, foi percebendo que ali podia confiar seus maiores segredos, seus anseios, suas fraquezas, seus medos. Bastava dobrar e enfiar a prova no bolso e todo o resto estava seguro. Identificou-se, pela primeira vez, com os tais instrumentos "novos". Com eles e depois deles, tudo parecia ficar mais fácil. Aquela ferida dolorida, depois de exposta, ali, ficava tão pequenininha... As histórias que pareciam grandes não ocupavam mais do que cinco ou seis linhas. Mas chegou um dia em que se desesperou: restava apenas uma única e simples folha. Nada mais. Do lápis só restava um toco. E tinha ainda tantas histórias para contar... tanta coisa para dividir... A partir desse dia, passou a esperar pelas maiores coisas, para registar só aquilo que fosse realmente importante. E passou a viver mais, sempre na esperança de que o próximo momento fosse muito maior do que o que havia passado. E à medida em que cada um acabava, era só a expectativa que aumentava.

A última folha em branco continuava intacta, à espera.