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sábado, novembro 01, 2008

A última folha em branco

Aquela angústia presa, afoita por liberdade, ganhou como única forma de expressão umas tantas folhas em branco e um lápis mal apontado. Por um instante, olhou praqueles pedaços de papel com o desprezo por um objeto que não tinha e não representava nada. Porém, aos poucos, foi percebendo que ali podia confiar seus maiores segredos, seus anseios, suas fraquezas, seus medos. Bastava dobrar e enfiar a prova no bolso e todo o resto estava seguro. Identificou-se, pela primeira vez, com os tais instrumentos "novos". Com eles e depois deles, tudo parecia ficar mais fácil. Aquela ferida dolorida, depois de exposta, ali, ficava tão pequenininha... As histórias que pareciam grandes não ocupavam mais do que cinco ou seis linhas. Mas chegou um dia em que se desesperou: restava apenas uma única e simples folha. Nada mais. Do lápis só restava um toco. E tinha ainda tantas histórias para contar... tanta coisa para dividir... A partir desse dia, passou a esperar pelas maiores coisas, para registar só aquilo que fosse realmente importante. E passou a viver mais, sempre na esperança de que o próximo momento fosse muito maior do que o que havia passado. E à medida em que cada um acabava, era só a expectativa que aumentava.

A última folha em branco continuava intacta, à espera.

Um comentário:

Thiago Crespo disse...

Posso ir dormir pensando nisso pra ver se acordo com alguma idéia que traduza o que eu achei desse texto?